sexta-feira, 30 de abril de 2010

Parte de um roteiro: Abraços partidos

The doorbell rings:

CHON: The police!
PINA: Shush, how could it be the police?! No one knows you’re here!
CHON:I am a woman who attracts attention, Pina. Since I was a little girl…
PINA:Just pretend you’re here for coffee…

Pina limps toward the door, uncertain. (Behind it she will find new adventures). She looks back, toward Chon, half-smiling, tired but charming, filled with understanding and a love for life, with all its emotions and its contradictions. It’s with this half-smile on Magdalena’s face that the sequence arrives at its end

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Coisas para se fazer ao sair do cinema : Preciosa

                             
1 - Voltar urgente para a dieta
2 - Agradecer a Deus pela família que se tem
3 - Acreditar que tudo é possível (Mariah Carey ser atriz, por exemplo)
4 - Usar sempre camisinha
5 - Assumir as condições da vida e superá-las, não fugir delas
6 - Esperar menos da Assistência social
7 - Respeitar menos os Estados Unidos
8 - Acreditar mais na educação
9 - Não molestar os gordinhos (eles podem te bater)
10 - Voltar sempre ao cinema

Diretor da semana: Tim Burton

Com a chegada de sua versão para "Alice no país das maravilhas", Tim Burton ganha o título de diretor da semana.Uma breve homenagem a ele com uma retrospectiva de seus melhores momentos:

Da esquerda para direita, de cima para baixo:
1 - Os vilões-heróis de "Sweeney Todd" e o solitário de "Big fish"
2 - A caricatura de "Ed Wood"e o terror de "Sleepy Hollow"
3 - O Coringa de "Batman" e a Mulher-gato de "Batman returns"
4 - O estranho "Edward, mãos de tesoura" e os fantasmas de "Beetlejuice"

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pecado da carne (2009)



“Pecado da carne” do diretor estreante Haim Tabakman conta a história de uma relação homossexual entre dois judeus, um comerciante bem estabelecido em uma vila de Jerusalém e um jovem errante que aparece nas redondezas. A temática gay tem sido muito explorada nestes últimos anos pelo cinema. É foco de muitas produções no mundo inteiro. Dos cowboys em “Brokenack Mountain” de Ang Lee aos militantes políticos em “Milk” de Gus Van Sant, o cinema tem se dedicado a mostrar o impacto deste amor “entre iguais” em diferentes contextos e épocas. “Bublle” de Eytan Fox já tratou de fazer um Romeu e Julieta gay, contando a história de um amor homossexual entre um palestino e um israelense. “Pecado da carne” aproxima mais a lente e explora a questão dentro do microcosmo dos judeus ortodoxos em Jerusalém e adquire um caráter ainda mais plural, diferenciando-o da maioria dos outros filmes do tema. “Pecado da carne” se concentra não apenas nos problemas que a relação entre dois homens podem causar para a comunidade e a família ou para eles próprios , mas em como a ortodoxia judia lida com questões que lhe fogem a regra. Neste filme, lugar de uma relação gay, poderíamos ter um adultério ou a prática de incesto, contanto que o registro sobre a dinâmica daquela sociedade fosse revelada. Este é para mim o trunfo do filme. O título original que é “Eyes wide open” já diz muito sobre suas intenções.
Em partes:
Direção
Sei pouco sobre o diretor e o que posso dizer é que ele começou com o pé direito. O filme é muito bonito, bem narrado, tem imagens poéticas e sensíveis. As cenas de tensão e dúvida entre os dois homens prestes a se entregarem ao “pecado da carne” sugere um respeito muito grande a questão homossexual, aos dogmas judeus e por tudo mais que envolve aquele conflito entre valores e desejos. O filme é sensual sem ser apelativo. (E aquela cena da nascente? Só por ela o filme já vale muito. )Interessante: ainda que o estilo de direção seja o “artístico-cult”, do tipo cheio de silêncios e imagens metafóricas, o filme mantém uma atmosfera de suspense que deixa ele muito instigante. Muito bom.
Roteiro
Merav Doster, a roteirista, é mais uma de quem náo sei quase nada. Mas vendo o filme já temos informação suficiente para dizer que ela é uma mulher talentosa. Afinal, construir a base para uma obra tão bonita é tarefa para poucos artistas. Delicadeza e ousadia são palavras certas para falar do roteiro, a primeira pleo tratamento de todas as questões já citadas acima e a segunda pela coragem de delatar e expor seu próprio povo(claro, ela é israelita também, quem mais falaria tão bem dos judeus?). Ah, só uma observação: carne como metáfora para o desejo sexual é meio batido, né? Vamos combinar....mas ela foi salva pela direção que não deixou as tintas fortes.
ElencoZohar Strauss e Ran Danker, respectivamente o açougueiro e o o estudante, apresentam uma sintonia incrível. É o tipo de par que se pode dizer possuir “química”. Eles estão muito alinhados com as trocas de olhares, as falas, os silêncios. Na verdade, o elenco todo é muito harmônico quanto ao nível de interpretação, inclusive a atriz que faz a mulher do açougueiro. (Sabiam que o nome dela é Tinkerbell?...Como pode? Ele nasceu pra fazer a fada Sininho e está perdida em Israel?) Mas voltando aos dois, que é o que interessa, pelas minhas pesquisas, Zohar é um ator de muita tradição no cinema e na TV israelenses, mas não consigo citar nada que para mim seja mesmo relevante nos filmes que já fez, Ran, por sua vez, que curioso, é considerado um ídolo teen por lá. Independente das origens, o trabalho dos dois é excelente, com mais destaque para Zohar que chegou a ganhar um prêmio no Festival de Israel. Acho interessante como eles alternam as polaridades entre dominador e dominado. Explicando melhor : o açougueiro é mais velho e tem poder econômico, o estudante é sensual e livre,essas características sempre que necessário são utilizadas como instrumento de poder de um sobre outro, e os atores sabem transitar entre uma posição e outra sem transformar a interação dos personagens em uma batalha maniqueísta do jovem contra o velho, o pobre contra o rico ou o livre contra o preso. Eles se regulam e fazem uma ótima dupla em cena.
Fotografia
O que dizer da fotografia deste filme? Ela é bonita sem ser inesquecível, é discreta, é sobria. Imagino que de propósito ela é desprovida de luz, para se integrar com o todo. Axel Schneppat, o cara da fotografia, mostra um trabalho bem conectado com a direção, o roteiro, as interpretações..aliás, tudo é bem orquestrado neste filme, náo é? Mais um ponto para o diretor.
Figurino
Não tem muito o que falar, não é? Todo mundo igualzinho, com aquele visulazinho de judeu ortodoxo, tipos aqueles que estão sempre passeando por Higienópolis. A propósito, eu adoro o visual deles, sobretudo das crianças.
É isso.
Até a próxima sessão em partes!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Preciosa (2009)


A principal vocação do cinema americano atual é o comércio...alguém tem dúvida disso?...eu não. Apesar disso, eles estão cultuando nos últimos anos umas produções estilo “sujinho”, com roteiros mais críticos (inclusive ao american way life), visões documentaristas e personagens mais complexos. É o caso de “Pequena miss sunshine” de Jonathan Dayton e Valerie Faris , “Juno” de Jason Reitman e agora de “Preciosa” de Lee Daniels que no Brasil ganhou o subtítulo meloso “Uma história de esperança”...arrrgh!

Tenho que assumir que eles fazem esse cinema “sujinho” muito bem, todos os filmes citados acima estão entre os melhores dos últimos anos. E eu os chamo aqui de “sujinhos” porque eles dispensam aqueles cenários e personagens limpos e certinhos das comédias românticas e os heróis destemidos dos blockbusters e se dedicam a tipos mais humanos, deslocados e reais, na verdade, anti-heróis da nossa sociedade, personagens que nos cativam não por serem exemplos irreparáveis de ética e postura, mas pela forma que enfrentam as condições da vida e se superam, como a menina gordinha de “Pequena missa sunshine”, a adolescente bem resolvida com pais despreparados de “Juno” e a infeliz e sofredora garota de “Preciosa”.

“Preciosa” é um daqueles filmes que você termina pensando: “ah, como minha vida é maravilhiosa!” tamanhas são as desgraças que existem na vida da adolescente Preciosa.Basta adiantar aqui que além de ser miserável, obesa e analfabeta aos 17 anos, ela ainda é molestada pelo pai que lhe gera dois filhos, e sua mãe, ao invés de ajudá-la, a maltrata e cria uma relação baseada em ciúme e opressão.

Mas, como combinado, vamos em partes:

Direção:Lee Daniels é uma das figuras mais fortes do cinema negro norte americano. Tem uma postura quase militante quanto as questões que envolvem as minorias negras e “Preciosa” pode ser entendido como sua obra-prima no que se refere ao tema “minoria negra oprimida na América”. Antes disso ele só dirigiu um filme, chamado “Matadores de aluguel” , que não teve muita expressão e eu nem sequer assisti. Mas produziu “A última ceia” de Marc Forster que rendeu o Oscar de atriz a uma mulher negra pela primeita vez na história, Halle Berry.
Em “Preciosa”, ele se utiliza de todos os elementos do estilo filme de gueto, incluindo o ambiente decadente e marginalizado e as gírias excessivas dos negros. Mas tudo com coerência,uma vez que o filme tem esse caráter de manifesto, de denúncia ao establishment. Ele mantém um tom documentarista, uma câmera que se aproxima e se afasta do personagens como se estivesse tentando encontrar o melhor modo de captá-los, sejam eles os negros do Harlem ou os assistentes sociais e educadores. Lee deixa espaço para os atores fazerem o que precisa ser feito, não recheia a tela de imagens desnecessárias e panfletárias, não explora demasiadamente a fotografia, deixando a narrativa enxuta, sem frivolidades. Acho isso muito positivo e gosto particularmente de como ele estabelece o paralelo entre a realidade dura da protagonista e suas fantasias, como ser uma loira perfeita no espelho ou uma celebridade em seus sonhos. E desgosto daquela auto-projeção que ela faz dentro de um filme italiano. Que bobo aquilo, não acrescenta nada e fica meio piegas.

Roteiro
A história é baseada no livro “Push” da poetisa Saphire, baseado em fatos reais presenciados por ela em instituições sociais americanas. A partir disso, o roteiro de Geoffrey Fletcher parece cumprir seu intuito que, mais que mostrar a condição dos negros pobres nos EUA, como enfatiza o diretor, tenta deflagrar a condição ineficiente da assistência social do país e ilustrar a alienação moral que a sociedade se encontra, com mães psicóticas em frente a TV e adolescentes que acreditam em fama e red carpet como salvação da vida. O roteiro não poupa o espectador, é cruel, ríspido e não cai no melodrama barato. O texto é rico de sentimentos, evita chavões e clichês e consegue seu objetivo que é dar uma alerta geral para o que existe por trás da beleza americana e ainda deixar a todos com uma sensação de nojo e repúdio ao sistema. Muito bom.

ElencoChegamos ao ponto forte do filme. De nada adiantaria o engajamento e a força da direção e do roteiro se não tivéssemos os veículos corretos para dar vida às vozes do Harlem neste filme. Gabourey Sidibe é a tradução física e psicológica de Preciosa. Seu trabalho é incrível, sobretudo para uma estreante. E incrível é o que se pode dizer também das interpretações em geral de “Preciosa”, passando inclusive por Lanny Karvitz e (pasmem!) Mariah Carey, com pequenas e notáveis participações, e chegando ao sublime em Mo´Nique como a mãe da protagonista. Sabe aquelas interpretações que você percebe a entrega da atriz ao personagem? Pois é isso que ela faz. Mo´Nique vive as pertubações de sua personagem com uma naturalidade extrema. Ela não opta pela saída fácil de criar uma mãe-monstro, uma caricatura da maldade, e faz uma mulher cruel porque é fraca, egoísta e rude porque não sabe ser de outra forma. A mãe de Preciosa acredita em suas verdades e por isso as suas ações. Mo`Nique acredita em sua personagem e por isso o trabalho é tão intenso.

FotografiaApesar do diretor não utilizar a fotografia como um trunfo da direção, ela tem um papel importante para ambientar todos no mundo do Harlem e seus personagens desgraçados. Os tons são cinza e pastel sempre, deixando claro que o lado B do american way life não tem muito brilho. Andrew Dunn é responsável pela fotografia e faz neste filme o mesmo que fez em “Assassinato em Gosford Park” de Robert Altman, elabora a imagem a partir dos atores. A fotografia dá continuação a movimentação dos personagens. No filme de Robert Altman, ele expandia a elegância de Helen Mirren pelo resto da tela, aqui em “Preciosa” ele deixa a dor e a desordem íntima de Gabourey e Mo´Nique se confundirem com o underground do bairro em que vivem.

Figurino
Não conheço bem o trabalho anterior de Marina Draghici, a responsável pelo look de Preciosa e companhia, mas confesso que gostei muito do que vi. Considero difícil criar um figurino com personalidade para um filme contemporâneo, mas percebi muita adequação ao visual Harlem neste trabalho. Couro e streetwear não poderiam faltar, mas intercalados com momentos quase non-sense, fazem um conjunto interessante de composições. Ou ninguém reparou naquele macacão do cotton estampado que Mo`Nique usa enquanto dança em frente a TV? O que é aquilo, gente? Non-sense demais. Sem falar que, embora seja um elemento complementar em quase todo o filme, o figurino adquire função na narrativa quando o cachecol vermelho de Preciosa é entregue de presente para sua vizinha, uma garota indefesa e sofredora, como se Preciosa estivesse resolvido não mais carregar o fardo da vida que levava e passar a vez para a próxima infeliz. Lembram disso? Bem simbólico, não acham? Um ato de libertação e auto-reconhecimento na dor do outro. E em vermelho sangue, Valentino, gostei muito disso.

É isto.

Até a próxima sessão em partes!

domingo, 25 de abril de 2010

Primeiro post ou Para que você me entenda

Cinema é diversão e reflexão, às vezes cultura de massa, outras, arte para poucos. Cinema é imagem, é texto, contexto e interpretação. É catarse e integração, fuga e encontro. Cinema é uma experiência que pode passar sem força para os que não estão atentos e para outros, que, como eu, param, observam e se envolvem, pode ser uma epifania, um insigth, uma idéia nova, outra leitura do mundo, porta para outra dimensão....ou uma ajuda para o sono chegar mais rápido.
Abri este espaço para compartilhar as experiências que o cinema tem me proporcionado. Para cada filme que eu assistir, comentarei o que acho, gosto ou não gosto, sinto ou não sinto durante a sessão.
Tratarei os filmes sempre "em partes", por isso o título deste blog. São cinco as partes que me interessam para comentar: (1)direção, (2)elenco, (3)roteiro,(4)fotografia e (5)figurino.
Também farei as listas que adoro com os melhores, os piores e o que mais for possível ser listado no cinema. E falarei dos atores, das premiações e de tudo que achar pertinente ser comentado em torno da sétima arte.
Comentem e critiquem, o importante aqui é trocar impressões, ok?
Para este post de abertura, escolhi a imagem de "Bonequinha de luxo" de Blake Edwards sobre a qual quero comentar mais tarde por aqui.
Até a próxima sessão em partes!!