quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pecado da carne (2009)



“Pecado da carne” do diretor estreante Haim Tabakman conta a história de uma relação homossexual entre dois judeus, um comerciante bem estabelecido em uma vila de Jerusalém e um jovem errante que aparece nas redondezas. A temática gay tem sido muito explorada nestes últimos anos pelo cinema. É foco de muitas produções no mundo inteiro. Dos cowboys em “Brokenack Mountain” de Ang Lee aos militantes políticos em “Milk” de Gus Van Sant, o cinema tem se dedicado a mostrar o impacto deste amor “entre iguais” em diferentes contextos e épocas. “Bublle” de Eytan Fox já tratou de fazer um Romeu e Julieta gay, contando a história de um amor homossexual entre um palestino e um israelense. “Pecado da carne” aproxima mais a lente e explora a questão dentro do microcosmo dos judeus ortodoxos em Jerusalém e adquire um caráter ainda mais plural, diferenciando-o da maioria dos outros filmes do tema. “Pecado da carne” se concentra não apenas nos problemas que a relação entre dois homens podem causar para a comunidade e a família ou para eles próprios , mas em como a ortodoxia judia lida com questões que lhe fogem a regra. Neste filme, lugar de uma relação gay, poderíamos ter um adultério ou a prática de incesto, contanto que o registro sobre a dinâmica daquela sociedade fosse revelada. Este é para mim o trunfo do filme. O título original que é “Eyes wide open” já diz muito sobre suas intenções.
Em partes:
Direção
Sei pouco sobre o diretor e o que posso dizer é que ele começou com o pé direito. O filme é muito bonito, bem narrado, tem imagens poéticas e sensíveis. As cenas de tensão e dúvida entre os dois homens prestes a se entregarem ao “pecado da carne” sugere um respeito muito grande a questão homossexual, aos dogmas judeus e por tudo mais que envolve aquele conflito entre valores e desejos. O filme é sensual sem ser apelativo. (E aquela cena da nascente? Só por ela o filme já vale muito. )Interessante: ainda que o estilo de direção seja o “artístico-cult”, do tipo cheio de silêncios e imagens metafóricas, o filme mantém uma atmosfera de suspense que deixa ele muito instigante. Muito bom.
Roteiro
Merav Doster, a roteirista, é mais uma de quem náo sei quase nada. Mas vendo o filme já temos informação suficiente para dizer que ela é uma mulher talentosa. Afinal, construir a base para uma obra tão bonita é tarefa para poucos artistas. Delicadeza e ousadia são palavras certas para falar do roteiro, a primeira pleo tratamento de todas as questões já citadas acima e a segunda pela coragem de delatar e expor seu próprio povo(claro, ela é israelita também, quem mais falaria tão bem dos judeus?). Ah, só uma observação: carne como metáfora para o desejo sexual é meio batido, né? Vamos combinar....mas ela foi salva pela direção que não deixou as tintas fortes.
ElencoZohar Strauss e Ran Danker, respectivamente o açougueiro e o o estudante, apresentam uma sintonia incrível. É o tipo de par que se pode dizer possuir “química”. Eles estão muito alinhados com as trocas de olhares, as falas, os silêncios. Na verdade, o elenco todo é muito harmônico quanto ao nível de interpretação, inclusive a atriz que faz a mulher do açougueiro. (Sabiam que o nome dela é Tinkerbell?...Como pode? Ele nasceu pra fazer a fada Sininho e está perdida em Israel?) Mas voltando aos dois, que é o que interessa, pelas minhas pesquisas, Zohar é um ator de muita tradição no cinema e na TV israelenses, mas não consigo citar nada que para mim seja mesmo relevante nos filmes que já fez, Ran, por sua vez, que curioso, é considerado um ídolo teen por lá. Independente das origens, o trabalho dos dois é excelente, com mais destaque para Zohar que chegou a ganhar um prêmio no Festival de Israel. Acho interessante como eles alternam as polaridades entre dominador e dominado. Explicando melhor : o açougueiro é mais velho e tem poder econômico, o estudante é sensual e livre,essas características sempre que necessário são utilizadas como instrumento de poder de um sobre outro, e os atores sabem transitar entre uma posição e outra sem transformar a interação dos personagens em uma batalha maniqueísta do jovem contra o velho, o pobre contra o rico ou o livre contra o preso. Eles se regulam e fazem uma ótima dupla em cena.
Fotografia
O que dizer da fotografia deste filme? Ela é bonita sem ser inesquecível, é discreta, é sobria. Imagino que de propósito ela é desprovida de luz, para se integrar com o todo. Axel Schneppat, o cara da fotografia, mostra um trabalho bem conectado com a direção, o roteiro, as interpretações..aliás, tudo é bem orquestrado neste filme, náo é? Mais um ponto para o diretor.
Figurino
Não tem muito o que falar, não é? Todo mundo igualzinho, com aquele visulazinho de judeu ortodoxo, tipos aqueles que estão sempre passeando por Higienópolis. A propósito, eu adoro o visual deles, sobretudo das crianças.
É isso.
Até a próxima sessão em partes!

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