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O subtítulo deste filme, "Desejo e poder", deixa claro que ele está sendo distribuído como mais um do estilo Jane Austen de ser. E é isso mesmo que ele é. Mas cabe observar que, embora Evelyn Waugh, autor britânico que escreveu o livro que deu origem ao filme, seja bem menos poético que a escritora da era georgiana, é também menos conservador e ,por retratar um outro momento social, já no século XX, tem também mais espaço para ser irônico, crítico e explorar aspectos como homossexualidade, crença em Deus e relações psicológicas, muito além dos conflitos de classe de Jane Austen.
Assim como "Razão e sensibilidade", "Orgulho e preconceito" e "Desejo e reparação", "Desejo e poder" segue a linha de dramas familiares centrados em jovens aristocratas que não sabem lidar com as limitações sociais da época em que vivem. Podemos acrescentar "A duquesa" também ao grupo.
Por partes...
Direção
É o primeiro filme de Julian Jarrold que assisto e apesar de seu trabalho não ser nada incrível, nada mesmo, me despertou interesse suficiente para querer ver um outro filme dele, "Amor e inicência", sobre a vida de...adivinhem quem?...Jane Austen, claro, comprovando minha teoria sobre filme de estilo definido. Em "Brideshead", temos uma direção meio confusa com três aberturas que antecipam sequências do final, mas que não acrescentam muita coisa à narrativa por terem sido postas no início. Há uma subutilização das locações, sobretudo da mansão que dá título ao nome. Pelo que entendi na história, Brideshead, a mansão, era quase um personagem vivo na história e, na verdade, tudo que se faz no filme com ela é exibicionismo da imponência de seu pé-direito e de suas estátuas clássicas. Fora as explícitas e mal feitas intervenções digitais em sequências como as do navio, por exemplo. Gostei muito pouco.
Roteiro
Não li o livro para saber o quanto os roteiristas foram fiíeis ou não,embora hoje eu acredite que isso importa pouco, o importante é manter a essência da obra original e saber adaptar o que está em literatura para a linguagem do cinema. E a sensação que tenho é que isso foi bem feito. Todas as referências para se entender o contexto da história são passadas, as falas possuem o tom de que foram feitas para serem lidas e passaram por sutis modificações para adquirir o aspecto coloquial das falas. Os personagens são bem desenhados, mas acho que poderia ser melhor aproveitados, sobretudo Sebastian e sua mãe. Esse é u único "senão" ao roteiro, no resto, tudo me parece adequado.
Elenco
Adoro o trio de jovens atores, sobretudo os garotos. Matthew Goode e Hayley Atwell são woodyallenianos e seus rostos ainda serão vistos com muita freqüência pela frente, tenho certeza. Ela mais pela beleza e carisma que pelo talento em si, é verdade, ele, por tudo, incluindo pela capacidade de dar personalidade aos tipos que faz, como em "Match Point" e agora aqui, em "Brideshead". Ben Wishaw, o terceiro e mais polêmico personagem do trio, é feito por um ator que decididamente tem muito futuro, a julgar por este trabalho e por "Perfume". Aqui ele faz um dândi homossexual e problemático, as vezes quase estereotipado, mas com o toque certo dos maneirismos para deixar clara a marca do papel e não exagerar na afetação. Para coroar o elenco, Emma Thmpson, dura e firme como a matriarca católica e controladora de Brideshead, deixa saudades quando desaparece no meio da história. Nada como uma grande atriz para preencher os espaços deixados por atores mais jovens e menos experientes.
Fotografia
Jess Hall é um diretor de fotografia para comerciais de TV que possui um ótimo currículo no cinema também. Isto dito para se entender que as imagens produzidas em "Brideshead" são sim bonitas, mas antes de tudo são funcionais, feitas para causar a impressão correta em cada espectador. Há algum problema nisso? Não de todo, eu penso. Por um lado, me incomoda saber que as imagens são menos artísticas e poéticas do que objetivas e programadas para causar efeito, mas por outro, acho digno de mérito conseguir aliar a estética do comercial, do produto, com a da apreciação artística. Funciona bem, embora pareça artificial as vezes.
Figurino
Adorei. É elegante, é condizente com o perfil dos personagens, tem função nas cenas, retrata bem a época, só tens pontos positivos. Eimer Ni Mhaoldomhnaigh, essa criatura de nome estranho, tem um talento incrível, já havia visto seu trabalho antes em "Café da manhã em plutão" e já tinha gostado muito.