"Soul Kitchen" é o tipo de filme feito para fazer você sair do cinema com o astral em cima. É engraçado, (tem momentos bem pastelão até como as dores na coluna do protagonista), romântico, dinâmico e possui um grupo de personagens que faz o lado rebelde da gente ser provocado.Um jovem idealista e meio deslocado dos padrões com uma namorada auto-centrada e objetiva. Um presidiário condicional tentando se reenquadrar na sociedade. Uma garçonete sensual e livre para as experiências da vida. E mais um bando de loosers que se contrapõem aos outros caras "do sistema" que estão concentrados em fazer negócios e se dar bem.
E na interação entre todos estes tipos, ficou para mim a reflexão de que estamos ainda precisando muito de alma para sermos melhores, o tal soul do título falta muito e não é só na cosinha. A alma é o que diferencia os personagens neste filme, seja na cozinha do chef que não suporta os pratos serem tratados com vulgaridade ou na relação que o dono do restaurante tem com o espaço que é dele. É a capacidade de imprimirmos alma que faz com que transformemos as coisas ao nosso redor e que com isso nos transformemos também.
Mas vamos por partes:
Direção
Fatih Akin, alemão de ascendescencia turca, é um diretor que tenho ouvido falar a algum tempo mas ainda não tinha me disposto a ver nenhum filme dele. Vendo "Soul kitchen" percebi que ele é um cara que merece atenção. Talvez não seja necessariamente a revelação do cinema nos últimos anos, nem traga uma grande inovação em linguagem ou técnica, mas é com certeza um artista que tem seu valor. Neste filme, ele elabora uma crítica ao "capitalismo sem alma" sem cair no discurso político chato e consegue fazer um filme inteligente com o mínimo de apelo comercial. Claro, ser inteligente e ser comercial ao mesmo tempo é sempre muito complicado, nem todo mundo é Woody Allen, mas entendo que ele conseguiu um equilíbrio entre estes dois pontos. No mais, para ser sincero, nada me desperta muito em seu trabalho, talvez quando eu assitir "Do outro lado" e "Contra parede", seus filmes anteriores eu possa analisar mais. Destaco o visual de cartazes e as reeferências pop que circulam no filme.
Roteiro
Os próprios diretor e ator principal do filme são responsáveis pelo roteiro, o que dá maior identidade ao texto. Ou seja, não existem muitos intervalos de compreensão entre o que foi escrito e o que está sendo exposto nas telas, não existem muitas cebeças entre a concepção e a execução, entendem? Tudo é feito pelas mesmas "almas". E estas almas sabem jogar muito bem com os personagens que criaram e as situações que estes vivenciam. O roteiro cria um ambiente delicioso para os atores se jogarem, recheado com elementos pop como música e gastronomia e depois merglhado no cenário frio que é Hamburgo no inverno. O texto tem referências cults o tempo inteiro, mas fico em dúvida se todo mundo na Europa realmente leu o "Conde de Monte Cristo"como fica sugerido, enfim.
Elenco
O elenco em conjunto é bem legal, mas isoladamente não vejo algo especial em nenhum deles. Acho que estão todos bem em suas posições, mas ninguém me cativa ou me chama atenção acima da média, talvez com exceção de Biro Unel que faz o chef de cozinha e é responsável pelas cenas e textos masi interessantes do filme. O protagonista Adam Bousdoukos é engraçado e neurótico como o personagem realmnete deve ser, mas é o que se pode esperar dele uma vez que o próprio escreveu o texto. Moritz Bleibtreu , que faz o irmão presidiário, tem muita presença em cena, mas isto também se deve a sua vasta experiência, de todos ele é a estrela maior do grupo, já tendo participado de filmes como "Munique"de Spielberg, por exemplo. As mulheres são lindas, com destaque para os lindos olhos de Anna Berdeke que faz a garçonete, e dão conta do recado. Espero que todos eles aproveitem o filme como passaporte para outras produções e façam mais no futuro, espero mesmo isso.
Fotografia
Rainer Klausmann é o cara quando se fala em fotografia no cinema alemão nos últimos anos. Esteve em quase todos os filmes e em cada um deles fez um trabalho bem particular. Em "Soul kitchen" ele faz um trabalho muito bom quando contraõe o mundo do restaurante e seus habitantes vicerais contra o mundo dos engravatados e bem comportados. Para o primeiro, cores mais quentes, iluminação escura, calor com sensação de sufocamento, já para o segundo, tons de cinza iluminados, frieza e ambiente de solidão. Observando com calma, acho que a fotografia é a melhor coisa desse filme, viu?
Figurino
Adorei essa parte. Todos são vestidos com irreverência e personalidade. Dos ternos mega-bem-cortados dos executivos às roupas de brechó dos habitantes da Soul kitchen, fica tudo muito coerente com a proposta. Pelo que li, a figurinista Katrin Aschendorf é mais uma da turminha do diretor pois participou de todos os seus filmes.
É isso.
Então até a próxima sessão em partes!
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